História

O topónimo - Longroiva - como afirma o Dr. Jorge de Lima Saraiva, na sua obra "O Concelho da Meda", diz-nos que se trata de uma povoação de origem céltica. Nesta freguesia foram encontrados vestígios da presença humana desde os tempos do megalitismo até ao período do império romano. Aqui estiveram os árabes, que arrazaram tudo, excepto a torre de menagem do castelo, até que D. Fernando Magno, no século XI, a veio reconquistar.

O Vale da Veiga de Longroiva, junto da ribeira dos Piscos, a uma altitude de 300 m, constitui - segundo o prof. Dr. Adriano Vasco Rodrigues, uma excelente zona de pasto. Esta planura ocupa o extenso "graben" que ali se formou. Durante mais de dois milénios aquele espaço foi destinado essencialmente ao pastoreio, mantendo um extenso baldio junto da ribeira. A partir de meados do século XIX tornou-se uma zona rica de vinhedos e de olivais, após a arrematação ou a ocupação abusiva dos baldios por parte de alguns senhorios. Quase no extremo norte do vale mantém-se ainda um testemunho do aproveitamento agro-pecuário, que a Ordem de Cristo aqui fez, conservado no nome da  "Quinta do Chão de Ordem". Os núcleos populacionais, anexos de Longroiva, nascidos de antigas vilas agrícolas romanas, ou de herdades medievais sob a protecção dos Templários, são as Quintãs, a Quinta da Relva, a Quinta da Cornalheira e a dos Gamoais. A Quinta dos Areais teve remota origem na exploração das minas de chumbo, que se encontram nas imediações e eram já conhecidas na antiguidade, devendo-se aos romanos o seu maior aproveitamento.

Em 1145, 21 anos depois da data em que D. Teresa outorgou o 1º foral de Longroiva, esta povoação era doada aos Templários, por D.Fernão Mendes de Bragança, rico-homem, conde e cunhado de D. Afonso Henriques. Foi donatário o templário D. Hugo de Martónio.

A situação de Longroiva tinha então, nas contingências da Reconquista - diz-nos o aludido historiador Doutor Adriano Vasco Rodrigues - uma excelente posição estratégica. Durante um período transitório, devido ao avanço da Reconquista do Norte para Sul, teve Longroiva uma grande importância militar e foi uma base principal para os cavaleiros da Ordem do Templo. As vicissitudes por que passou a Ordem dos Templários levaram a que, no reinado de D. Dinis, esta Ordem fosse extinta e os seus bens passassem, em Portugal, para a recém-criada Ordem de Cristo.

Foi na capela da Senhora do Torrão, originariamente um pequeno templo românico, que os Templários deixaram os testemunhos mais expressivos da sua passagem, designadamente a consagração da pequena capela em honra de Santa Maria, S. Nicolau Confessor e outros santos, o que se descobriu em 1977. Outros vestígios se encontram ainda em Longroiva, como sejam uma tampa sepulcral com uma cruz de Cristo esculpida e uma espada, encontradas junto à capela, e uma outra cruz de Cristo no antigo Tribunal e Cadeia. Na fachada poente da torre de menagem do Castelo de Longroiva encontra-se também, actualmente, uma inscrição latina que, traduzida, diz o seguinte: "Na era de César de 1214 (ou seja no ano de 1176 da era de Cristo) Gualdim, chefe dos cavaleiros portugueses do templo, edificou esta torre com os seus soldados, reinando Afonso, rei de Portugal."

O Castelo de Longroiva está situado no ponto mais alto do antigo castro de Longobriga. Hoje conserva um pedaço da cerca, que foi fechado no século XIX para servir de cemitério, e ainda restos da barbacã, que faz parte do reduto mais primitivo da fortaleza, anterior a 1176.

Para além do castelo, que sofreu beneficiação recente ao nível da iluminação e embelezamento, Longroiva possui um notável património cultural construído: o solar dos marqueses de Roriz, adaptado a turismo de habitação, a capela da Senhora do Torrão, a Fonte da Concelha, a Fonte Nova, a Igreja Matriz, dedicada a Santa Maria, a estrada nomana (para Astorga e Caliábria), a forca, sepulturas antropomórficas e moinhos de água.

A Igreja Matriz, de origem românica, sofreu alterações várias ao longo do tempo, especialmente no século XVII. Os altares são de talha dourada, ao gosto da época barroca e os tectos da capela mór contêm pinturas do mesmo século representando a Ceia; no corpo da Igreja, outras representam a Virgem e a Cruz da Comenda da Ordem de Cristo. O último restauro data de 1941, na sequência de um ciclone que provocou grandes prejuízos em toda a região. A Igreja possui valores artísticos de excepcional valor, entre eles uma salva de cobre de Nuremberga, do século XVI, oferecida por D. Manuel I, e uma imagem de Cristo também do mesmo século. Tem uma torre sineira construída na década de 1950 com as pedras de uma outra que ruiu. A Igreja forma, com a capela da Senhora do torrão e o castelo, um conjunto inolvidável.

Por alguma razão se dão louvores a esta ridente localidade quando se canta:

                                                       Há três coisas em Longroiva
                                                       que bem empregadas são:
                                                       são os sinos e as águas
                                                       e a Senhora do Torrão.


Não se tem por definitivo que Longroiva tenha recebido dois forais, não obstante se afirmar que o primeiro, dado por D. Teresa, mãe de D. Afonso Henriques, teria sido concedido em 1124 e confirmado em 1220 por D. Afonso II, e outro pelo braganção D. Fernão Mendes, na altura da doação aos templários. Certo, porém, é o foral "novo" dado a Longroiva por D. Manuel I, em 1 de Junho de 1510, do qual foram feitos três exemplares, um dos quais se encontra actualmente arquivado na Câmara Municipal da Meda.

Quando se visita ou quando deixamos a bela povoação de Longroiva, harmoniosamente adoçada ao conjunto referido, ficamos com a sensação de estarmos a contemplar um dos mais bonitos presépios que algum artista poderia conceber. O casario branco alonga-se na encosta poente do monte, ao longo de pequenas ruas medievais, de forma compacta e que vão confluir no Largo da Praça onde se localiza a antiga Câmara e o pelourinho. Inolvidável. Aliás, Longroiva é uma povoação onde se vive dignamente, constituindo uma das jóias mais preciosas que adorna o concelho da Meda e de que este se pode orgulhar.






A ESTÁTUA – MENIR  DE LONGROIVA

O equipamento representado na Estátua-Menir de Longroiva (Portugal) e o do Homem do Gelo (Ossi, ou Similaun), encontrado nas montanhas do Tirol, em 1991, comprovam a extensão da unidade cultural da Idade do Bronze na Europa.



Por Adriano Vasco Rodrigues



Foi em Abril de 1964 que localizei um dos mais importantes documentos pré-históricos deste concelho e do distrito da Guarda: a Estátua-Menir de Longroiva. Ajudou-me uma informação dada pelo meu amigo e agricultor Sr. Arménio Tairum, que vira desenterrar meses antes, uma enorme pedra com riscos, nos trabalhos de abertura de uma vinha, na Quinta da Veiga, no sítio do Cruzeiro Velho, próxima da antiga via romana e a curta distância da Ribeira dos Piscos. Aquele local do Cruzeiro Velho fazia parte, até à década de 1930, de um caminho vicinal público, integrado abusivamente pelo Senhor Aires Botelho na sua Quinta da Veiga. A Junta de Freguesia de Longroiva nunca reivindicou o direito ao terreno. Historicamente, a Estátua-Menir pertenceria à Freguesia e não a um proprietário privado.

Naquele monólito de granito, com 2,40m, está representado a inscultura de um guerreiro ou preferivelmente caçador, da Idade do Bronze, acompanhado das suas armas, que são uma alabarda com um longo cabo, provavelmente de madeira, um punhal ou espada curta triangular, um arco e uma foicinha. A figura do caçador está profundamente estilizada assemelhando-se pela técnica do gravado às insculturas das chamadas deusas-mães eneolíticas e das estátuas menhires francesas da região de Aveyron, enquadradas na Primeira Idade do Bronze. O tamanho dos desenhos da estátua de Longroiva parecem corresponder à cópia do natural.

A face do caçador está ornamentada com uma máscara funerária. Em torno do pescoço, a linha curva, deve identificar-se com uma lúnula. Essas lúnulas de bronze ou de ouro, são vulgarmente representadas nestes monumentos.

A analogia da estátua-menhir de Longroiva com as de Aveyron, em França, permite formular a hipótese de, nas suas raízes, os Lusitanos terem recebido influências das primeiras migrações dos pastores proto-indo-europeus, que se deslocaram para Ocidente, evoluíndo com aculturações ao longo da Idade do Fero. Esta minha hipótese encontrou posteriormente o apoio de alguns arqueólogos que, com base na linguística, entre eles António Tovar, defendem uma origem peninsular dos Lusitanos a partir da Idade do Bronze, recusando a tese migratória (vid. Os Lusitanos, do autor). 

Nota interessante, é o facto de as estátuas de Aveyron se localizarem na região da Oxitânia e a de Longroiva na Lusitânia, ambas com raízes linguísticas com muitas analogias... 

Na vizinha Espanha, em torno as Serra da Gata, foram encontradas estátuas deste período.



                      

        Em cima: Estátua-menir de Longroiva,
                       vendo-se representados os objectos
                       que acompanhavam o guerreiro.





Medidas da Inscultura

A estátua-menir tem as seguintes dimensões: C. 2,40m; L. 1,30m. A cabeça do guerreiro tem de altura 0,28m; o punhal 0,44m, sendo a lâmina de 0,31m; a aljava de lâmina triangular, característica deste período com 0,80m e a foice curva, de ponta a ponta 0,29m.



Curiosamente o homem representado neste monumento assemelha-se com o seu equipamento ao Homem do Gelo, encontrado em Setembro de 1991, nas montanhas do Tirol, inicialmente conhecido por Homem de Similaun mas após a disputa entre a Itália e a Suíça pela posse do congelado, designado por Ossi. 

Teria 46 anos. Salvo a diferença de vestuário adaptado ao frio, todo o equipamento que usava era semelhante ao do homem representado no monólito de Longroiva. Até nas dimensões. O do Tirol vestia uma túnica e calçava sapatos feitos de erva, revestindo os pés com feno. Levava um machado, ou aljava triangular, um arco, um saco para as setas, um punhal. A aljava media 80 cm; o arco, 1,80m; e as catorze flechas de madeira, 85cm, com as pontas em sílex. Num saquinho estava a merenda: sementes e ameixas frescas, o que faz concluir que decorria o mês de Setembro, quando foi surpreendido pela tempestade de neve que o matou. No corpo tinha tatuagens. Após ter sido autopsiado, os médicos verificaram que sofria de reumatismo e artrismo e recebia tratamento de apuncultura. As tatuagens nas costas e nos quadris indicavam os pontos onde as agulhas eram introduzidas. Assim, quando ele se deslocava para regiões distantes, as tatuagens funcionavam como cartas de médico para médico, indicando os pontos mestres contra a artrite reumática.

A inscultura de Longroiva representa simbolicamente o arco, dando-lhe menores dimensões. 

Comparativamente trata-se da mesma civilização da Idade do Bronze, abrangendo desde o Centro da Europa ao Ocidente Peninsular, há 5000 anos. 

A estátua menir de Longroiva pode representar um caçador da Idade do Bronze, que actuasse não só naquele Vale mas também na Bacia do Coa, pois foi localizada perto da Ribeira dos Piscos, afluente daquele rio. A sua capacidade cinegética poderia tê-lo transformado num líder, merecendo o culto dos heróis, testemunhado pelo monumento. Simultaneamente a actividade do caçador ligava-se também à do guerreiro. 



Recentemente, em 2001, foram anunciadas na Imprensa as descobertas de mais duas estátuas deste tipo, no distrito da Guarda. A primeira encontrada no mês de Maio, perto do Cabeço das Fráguas entre as povoações de Demoura e Aldeia de Santa Madalena, no concelho da Guarda. Esculpiram uma figura humana num bloco granítico cilindro, com 102cm de altura por 42 de largura. O rosto da figura representa uma face humana encimada por cabelo, distinguindo-se os olhos, o nariz e a boca. A face oval é contornada por quatro sulcos, que me sugerem uma lúnula, ou, como pretende o Arqueólogo Ramos Osório, um colar. A datação atribuída oscila entre a segunda metade do V milénio e os inícios do IV milénio, antes de Cristo. 

Em Julho do mesmo ano o jornal Ecos da Marofa noticiava a descoberta na Quinta dos Marcelinos, a 2 quilómetros de Figueira de Castelo Rodrigo, de um menir da Idade do Bronze, com cerca de quatro mil anos, segundo a arqueóloga Raquel Vilaça. Mede 3 metros de altura, com uma largura entre os 60 e 70 cm. Tem representada, além da figura humana, uma espada e uma alabarda de lâmina triangular, característica da época. Todas estas descobertas completam o estudo sobre a Idade do Bronze que fiz no distrito da Guarda há cerca de quarenta anos e comprovaram o desenvolvimento de uma cultura que culmina com o Bronze Atlântico. O cobre e o estanho existem próximos, entre a Guarda e o Sabugal, sendo dali exportados para Huelva, como me foi possível comprovar através das vias que então estudei e de que dei notícia. (vid. os trabalhos do Autor, Arqueologia da Península Hispânica, Idade do Bronze e Enciclopédia Verbo, IV Vol. Bronze).





Bibliografia:

Rodrigues, Adriano Vasco - "Terras da Meda - Natureza e Cultura" - 1983;

Saraiva, Jorge António Lima - "O Concelho de Meda - 1838-1999" - 1999.